Bem casado [#136]

Roberto chegou em casa com uma caixa de presente gigantesca. Pousou na mesa. Oi amor, cheguei. Renata ouviu a porta batendo, meteu o marca-página no livro, abriu a gaveta e pegou a caixinha de presente. Foi pra sala. Oi amor, tudo bom? Como foi o dia?

Tudo bem, o pessoal do serviço me segurou lá, quis tomar umazinha. Pô, Beto, justo hoje? No nosso aniversário? Uai, Renata, eu tô sendo sincero. Melhor que inventar que tava trabalhando, né? Olha, Beto, sinceridade é bacana, mas deixa pra falar as coisas numa hora melhor. Ou nem fala nada. Eu lá queria saber que você queimou largada? Agora vai misturar cerveja com vinho e passar a noite inteira no banheiro. Muito romântico. Falando nisso, cadê o vinho?

Então, amor. Eu vim correndo, esqueci de passar no mercado, desculpa. Quer que eu vá lá? O trânsito tá melhorzinho, acho que em 40 minutos tô de volta. Não, não. Agora esquece. Vamos tomar a cerveja que sobrou do fim de semana. Aí pelo menos você não passa mal de misturar bebida. Vai tomar um banho que o salmão tá quase pronto.

Renata checou o forno, ligou a TV, colocou o DVD do Brian McKnight, subiu a cerveja pro freezer, acendeu as velas e um incenso. Tirou a travessa de salada da geladeira, aspargos, couve-de-Bruxelas e tomate cereja. Colocou o arroz branco com cheiro verde na mesa, trocou as taças de vinho por copos de cristal. Desligou o forno, o salmão lindão em cima do papel manteiga. Roberto apareceu, o cabelo molhado grudado na testa e uma samba-canção velha.

Puta que pariu, Beto! Vai se vestir! Não é porque a gente resolveu comemorar em casa que cê precisa ficar tão à vontade! Ah, Renata, você que é exagerada. Olha aí, vestido e maquiagem. Pra ficar em casa! Beto, não quero mais um pio. Coloca uma roupa decente. Roberto foi e voltou de short, chinelo e camisa polo, cabelo penteado, perfume no cangote. Tá vendo como ficou melhor? Vem cá, deixa eu te dar o presente. Aqui. Beijo. Abre.

Um relógio prateado, pulseirona reluzente, cronômetro, temperatura, calendário e o escambau. Bem caro, pelo jeito. Nossa, amor, não precisava gastar comigo! Era pra ser só uma lembrancinha. Ah, Beto, você merece. Tá, brigado. Renata abriu o embrulhão que Roberto trouxe, e depois os outros sete embrulhos subsequentes, pra achar no meio de tudo uma bola de plástico bolha. Que porra é essa, Beto? É só uma brincadeira, amor. Você falou que a gente precisava economizar, então não comprei nada. O que importa é o sentimento, né? Eu te amo, te amo mais que tudo.

Renata levantou, jogou o salmão no lixo, pegou a bolsa e ligou pras amigas. Saiu cantando pneu.

Roberto resgatou o salmão e se esbaldou. Casei bem, pensou. Essa sabe cozinhar.