Briga de homem

- Vê um medalhão de frango, uma alcatra bem passada, um pão com alho e dois queijos. Ainda tão fazendo com aquela cebola refogada por cima? Manda na alcatra, então. E vê mais uma garrafa. Cê vai tomar mais, Marcos?
- Opa.
- Bom aqui, né?
- Não é? Meio caro mas é tranquilo. Tá sempre vazio. Dá pra fumar. TV baixa. Cerva trincando.
- Mais pra quê?
- E a Márcia, Jorge, como é que tá?
- Tá levando, cara. Eu fiquei no hotel por uns dias. Uma semana. Daí me ligou, pediu pra conversar. Tá de boa.
- Descobriu a Letícia?
- Foi.
- A Tereza me contou. Elas andaram conversando.
- Sei. Tive que mandar a Letícia pras cucuias. Porra, ela me ligou um dia de madrugada. A Márcia não é boba, fez as contas.
- Mas e a Berta e a Maria?
- Não, não. Aí cê quer demais também, pô. Deixa o nego viver.
- Caralho, Jorge. Achei que ia abrir o jogo de vez.
- Tá louco? Era divórcio na certa. Imagina a cabeça do Bruninho. Tá com quatro anos, pô.
- É.
- E o Max? Com dois, né?
- Agora em setembro. Dá trabalho mas vale a pena.
- Claro. Os pivetes fazem tudo valer a pena.
- Pô, Jorge, achei que tu tinha parado com a putaria depois dessa. A Tereza pelo menos tá super convencida. Eu tava também.
- Que bom, continua assim.
- Tô falando pelo teu bem, cara. Não quero ver teu casamento acabar duma hora pra outra. Dá um tempo, pelo menos.
- Tá louco, Marcos? Porra, que que tu quer falar? E a festa lá no Luisão? Que a gente acabou no puteiro? Tem nem um mês isso. E agora vem dar lição de moral?
- Eu vacilei. Mas foi aquela noite, acabou. E a mulher não vai ficar me procurando. Tá entendendo?
- Porra, cara. Cuida do teu que eu cuido do meu, belê? Tu não sabe pelo que tô passando.
- Ah, caralho, Jorge. Tá aí com emprego foda, carrão chique, dinheiro, filho saudável, mulher bonita. E ainda reclama. Tu é uma figura mesmo, sempre se fazendo de vítima.
- Vai se fuder, meu. Tirou a noite pra me torrar, é?
- Tentando abrir seu olho, parceiro.
- Cuida da gorda da tua mulher que eu cuido da minha.
- Vai se fuder. Deixa a Tereza fora dessa.
- Então desiste dessa bosta de sermão, caralho. Eu sei cuidar da minha vida. Isso aí tá rolando desde antes de eu casar. Confia, vai. Só esquece.
- Cê que sabe.
- Exato.

- Viu o jogo ontem?
- Puta merda. Que que foi aquele gol nos 46 do segundo?
- Já te falei, pô. Desiste desse timeco aí e vem pro Corinthians que cê ganha mais.
- Nada. Torcida chata pra encrenca.
- Porra, a fome tá me matando.
- Aqui sai rápido. Já comeu com a cebola refogada?
- Deve dar um bafo desgraçado.
- Larga de frescura, Marcos. Chega em casa, escova o dente e soca Listerine. Vale a pena.
- Sei lá.
- Ô chefia! Aqui! Escuta, o nosso espeto. Será que dá pra fazer o medalhão com cebola também? Tá, vê lá na cozinha, faz um esforcinho lá. E traz mais uma.
- E o atendimento é bom, né, velho.
- Poisé, temos que vir mais vezes.
- Demorou.