Areiaiera

O copo enche, milimétrico. Cabeça na areia, boca aberta, a garoa umedecendo os grãos sobre os dentes, a gengiva, a língua. Quando pesa nas pálpebras e escorre em grandes gotas, Pietro abre os olhos. Ao redor chicotadas de vento, manada de nuvens movidas a contra-gosto, picos macios de dunas em sucessão desordenada.

Nota o copo no chão, já na metade. O gole arde, traqueia em brasa, respi...

 

Alvariomano [#189]

O mercado brota na esquina.

Encontro Alvariomano na prateleira de temperos exóticos, entre a pimenta com gergelim e o molho shoyu. Não parece grande coisa tão pequeno, mas já possui aquela voz irrecusável que massacra qualquer fagulha de vontade. Pergunto pro moço se é o único em estoque e o próprio Alvariomano responde com um grave que faz escorrer cera do ouvido: você só precisa de...

 

A deusa na urna (3) [#82]

Me vi diante de um cômodo circular e sombrio.

Um tapete grosso de pó dominava o chão de terra, no centro, e ao seu lado uma grande e desconfortável cadeira de madeira abrigava um esqueleto. Ele estava sentado, os braços nos repousos, a caveira equilibrada sobre a espinha e o encosto. Vestia um terno preto puído e rasgado, e me lembrei da menção da senhora Sturgens às roupas lúgubres...

 

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