Da imensidão da terra

E a árvore, sensei?

Está aqui há incontáveis eras. Não há nenhuma outra árvore cuja largura do tronco supere a desta, nem mesmo os robustos pés plantados pelo imperador Chiui no bosque da primavera depois da morte do seu pai.

As raízes são enormes.

De fato. Elas se estendem em todas as direções antes de mergulhar no chão, e é possível notar onde voltam a buscar o sol na superfície. São lombadas que brotam com violência, não importa o que esteja no caminho. Há uma delas nos fundos do nosso templo. Há delas nos campos ao norte e no palácio, o piso aberto no dormitório dos serviçais. Há delas nas terras a oeste, entre as casas dos campesinos e no solar de um guerreiro. Há delas ao sul até as fronteiras do império e além, sedentas entre os milharais e os campos de trigo, dourando sob a bandeira fincada no término da última guerra. Há delas ao leste até o mar, e segundo as histórias dos antigos, quando ainda era possível ver parte da terra hoje banhada pela água, mais delas mar adentro.

Como é possível, sensei, que as raízes de uma única árvore se estendam por dias de viagem, vencendo qualquer obstáculo?

É um atestado da velhice e da sabedoria do mundo. Calcule os anos que leva qualquer árvore para nascer, vicejar e dar frutos, e calcule quantas vidas foram necessárias para que essas raízes chegassem onde chegaram. Imagine o quanto se retorceram e serpentearam sob nossos pés para contornar formações rochosas, para mergulhar sob leitos de água, para vencer a escassez sob as montanhas e beber no solo rico das florestas. É uma obstinação colossal, incomparável com a do homem em seus projetos miúdos, um marco plantado aqui em tempos esquecidos para evidenciar a força da natureza.

Ela dá frutos, sensei?

Muitos teorizam a esse respeito. Um botânico de um continente além-mar sugere que a árvore ainda não alcançou o estágio de maturação, e que eventualmente flores do tamanho de nuvens se abrirão e frutos gigantescos cairão no solo e arrasarão cidades. Outros já afirmaram que o estágio de maturação ocorreu há muito e vemos hoje seu lento declínio rumo à morte.

E o que o senhor acha?

Creio que o importante não é a resposta, mas as perguntas. As perguntas que ainda não fizemos, ou que esquecemos, ou que pensaram antes de nosso tempo e se esvaíram na fumaça do passado. Não sei dizer como, mas suspeito que o comportamento errático do segundo sol esteja relacionado a ela.

Falando em segundo sol, sensei, cuidado. Ele se aproxima. Aqui, embaixo dessa raiz, rápido.

No jardim, Joana busca a bola amarela chutada perto do cajueiro.