Ele não goza [#182]

Josué nunca gozou.

Sempre achou que seria um desperdício. Considerava a contenção da carga de tesão que acumulava um talento invejável. Não que fosse celibatário. Ia pra cama com diversas mulheres, as que se encantavam com seu papo doce e com o sambinha no pé. Mas não importava o tempo do ato, as vezes que suas parceiras gozavam, o ambiente, os apetrechos, a música; ele não terminava. Na verdade tudo o que sucedia a primeira e longínqua punheta era ainda um prolongamento dela, um sonho infantil que não podia acabar em risada boba e corpo mole e mão suja.

Os médicos o alertaram. Não era saudável. O corpo humano foi feito exatamente para esse fim biológico: reproduzir. Contrariar o anseio natural traria malefícios cedo ou tarde. Josué ignorou os avisos, apresentando sistematicamente sua tese às parceiras: aproveita, querida, comigo só acaba quando você achar que tem que acabar, o que eu mais tenho é fôlego. Elas gostavam no início mas logo se cansavam. Chegavam sempre à fatídica descoberta que o gozo não é tão gozo se não é conjunto. Era o momento de partir pra próxima.

Josué mascava analgésicos feito chicletes mas não gostava de falar a respeito. Seu saco era inchado e duro. Pedia pras mulheres não o tocarem, nem o mínimo carinho, que o que importava de verdade tava logo acima.

Na véspera do aniversário de 28 anos decidiu que chegara a hora. Mônica, a da vez, mal se continha para ver aquele pingo espirituoso de satisfação invadir a cara do parceiro. Decidido, Josué mal se mexeu e gozou. O que saiu foi algo escuro e quase sólido, numa quantidade absurda. Ambos observaram admirados a substância fluir feito uma torneira mal-fechada de pingos ininterruptos que se juntaram numa poça espelhada no lençol e vibraram ao som de um mantra que saía de algum lugar, e as pequenas gotas negras adquiriram formas humanoides e se ergueram e deram as mãos e dançaram e numa comunhão mística se agregaram num fio maleável e serpentearam pelas pernas de Mônica e adentraram sua vagina e no útero fizeram nova casa.

Josué sorriu e caiu morto no chão com o saco murcho e ressecado. O último pensamento a cruzar sua cabeça foi por que não fez isso antes. A sensação de dever cumprido se espalhou e catapultou de forma irremediável a veia fraca do seu coração. Na verdade o coração de Josué devia ter parado aos 9 anos, naquela primeira punheta. Havia algo a mais incentivando seu comportamento desde tão tenra idade. O pequeno ser que se alojou em sua bolsa escrotal aquele dia no parque, quando ninguém olhava, precisava de uma hospedeira qualificada. E Mônica levou 19 anos para aparecer. Fazer o quê. Paciência é uma virtude.