Flash Fiction

Gosto de peito caído, pinto murcho, barriga flácida, mancha na pele, nó da mão protuberante. Gosto mesmo. Tenho uma tara especial pelas unhas. Ficam grossas, pesadas. Pelo na orelha, no nariz, sobrancelha grossa, braço caído, papada mole. Tudo isso é resultado da vida. Não entendo quem acha isso feio, é onde todo mundo vai parar. Na verdade é onde os bons chegam, não são todos.

Os psicoentendidos que se lasquem, não considero isso doença. É uma pequena obsessão, tipo gostar de batata frita com sorvete. Eu gosto de velho.

Tem algo neles, não sei explicar. Homem e mulher, tanto faz. Rugas, aquele charme. Pé de galinha, nossa. Dão todo um desenho bonito, umas trilhas, um toque de sabedoria, de resistência. É excitante. Gosto do cabelo branco, mas não do pintado, da peruca, nem daquele acinzentado com xampu especial. Gosto do amarelão mesmo, natural, papai noel. Tem um quê de reverência, me lembra escritórios antigos, pessoal fumando charutões, ternos bem cortados, sapato encerado.

É um erro achar que o tesão evapora depois dos 60, 70, 80. Muitos pioram. Velho fica mais atentado mesmo. E compensa toda a limitação física na experiência. Não dá pra fazer loucuras aeróbicas, mas eles são compreensíveis, obstinados e delicados. É outro nível. Não têm aquela pressa de gozar, o negócio rende. Tá certo que precisa de lubrificante, de viagra, de tudo que é artifício, mas garanto, vale a pena. E é um filão ignorado. Ignoradíssimo. Vou te contar, o que tem de vô e vó que entra na viuvez e quer reviver os bons tempos não tá escrito.

Não sou velha, nem 30, e fujo da gurizada. Não dá pra comparar. Tá longe o dia que essa juventude alcança a malícia da velharada. Pedofilia é uma coisa tão errada. Mania de grandeza. Quer ensinar, se aproveitar da inocência. Bonito mesmo é aprender. Com quem sabe. Com quem tá fazendo isso há décadas e décadas.

Pensa bem. A tendência é ter cada vez mais velho no mundo, não é? Olha o mercado se expandindo. Boa hora pra entrar no bonde.