O gatilho improvável de Tetsumi

Ela entrou no quarto, fechou o shoji atrás de si, caminhou até a vela e cobriu a chama. Sentou e aguardou, a fumaça espiralando.

Hideyoshi entrou minutos mais tarde, abrindo o shoji com violência. Ela sentiu o cheiro forte de saquê. Concluiu que só teria o que queria depois, respirou fundo e desatou o obi. As mãos de Hideyoshi entraram rápidas e desajeitadas sob as camadas do kimono, e abriram caminho. Ela embicou o corpo para o futon, mas o homem não queria desvios, e o tatame sob ambos era suficiente. Ela mordeu o lábio com força e deixou o lampejo de dor percorrer o corpo. Devia lembrar, para todos os efeitos, de ser quem devia ser.

Depois, deitado com a cabeça apoiada em sua barriga, Hideyoshi respirava alto, recuperando o fôlego. Ela aguardou.

Hideyoshi-sama.

Sim, Tetsumi.

É verdade que Toyotomo-dono marcha amanhã?

Hideyoshi ergueu a cabeça na penumbra e encarou a mulher nos olhos.

Quem lhe disse isso?

Ninguém, senhor. Me perdoe. Estou conjecturando. Tenho uma prima, irmã de criação, trabalhando no templo de Chōsenji. Tenho vontade de mandar buscá-la antes que a marcha comece. Seu pai está muito doente, e receio que uma vez iniciada a guerra, os templos fechem as portas e os monges a trancafiem.

Hideyoshi deitou de lado e voltou a apoiar a cabeça na barriga da mulher. Ergueu a mão e apertou suavemente seu seio.

Tetsumi, gostaria que me acompanhasse. Preparasse e esquentasse minha cama na estrada. Mas isso não será possível.

Compreendo, senhor.

Mas voltarei. E você estará me esperando.

É claro. Volta em breve?

Não antes do inverno. Até lá, não quero que divida a cama com outro homem. Vou lhe pagar por todos os dias de trabalho perdido, em antecipação. Quero você apenas para mim.

Muito me honra com esse gesto, Hideyoshi-sama.

Sentirei sua falta, doninha.

E eu a sua.

O homem soltou o seio da mulher e fechou os olhos. Demorou alguns segundos para voltar a falar.

Chōsenji, você disse?

Sim, senhor.

Não se preocupe. A marcha não passará por Chōsenji. Sua prima ficará a salvo e em liberdade.

Que alegria ouvir isso.

Tetsumi ergueu a mão e enfiou o polegar entre o indicador e o médio. A kunai veio de algum canto do quarto, silenciosa como um mosquito, e se enterrou na garganta de Hideyoshi, dilacerando suas cordas vocais e impedindo qualquer alarme. Tetsumi segurou seus braços enquanto morria.

Matanari, coberto de preto com exceção dos olhos, aguardou a mulher limpar o sangue e vestir o kimono. Combinaram de se encontrar nos fundos do mercado da vila, onde Matanari aguardaria com um cavalo, roupas e suprimentos. A noite seria longa pelas estradas do feudo inimigo. Mas logo estariam em casa, diante de seu daimyō, com o júbilo contido na ponta da língua.