O troll social em: latido infernal [#32]

Carlos tinha um cachorro, um poodle branco que amava com todo o seu coração. Já a vizinhança o odiava com um fervor surpreendente.

O maldito cachorro latia sem parar, dia e noite. Ele ficava no portão e parecia se incomodar quando passava algum carro ou pedestre, quando chovia, quando ventava, quando fazia calor. Quando tudo estava normal, na mais perfeita paz, ele achava que havia algo errado e latia. Era um cachorro paranoico. O dono obviamente não se incomodava, pois além de possuir a natural defesa do ouvido-de-dono, os latidos eram para a rua, não para a casa.

O vizinho da frente de Carlos era um homem grande e barbudo e nunca fora de muita conversa. Um dia ele se deu ao trabalho de sentar na frente do portão de Carlos enquanto ele trabalhava, com um gravador na mão e um fantoche de gato. Diligentemente incomodou o cachorro com o fantoche e obteve duas horas de latidos ininterruptos até o poodle ficar rouco e cansado, dormindo na casinha pelo resto da tarde antes de recuperar a energia para os latidos noturnos.

O homem barbudo alugou a casa ao lado, que estava vaga. Emprestou o cachorro de um amigo, que latia pouco ou quase nada, para ajudar a manter as aparências. Comprou uma caixa de som potente e cinco cones de trânsito. Ajeitou-a sobre o muro e direcionou o som pelos cones para a janela do quarto de Carlos. Então ligou, num volume que não chegaria a incomodar os vizinhos mais do que o próprio poodle já incomodava, mas que sem dúvida não seria agradável para Carlos. O homem camuflou a invenção e a retirava toda manhã para que o vizinho não descobrisse a artimanha.

Na segunda noite Carlos não aguentou e veio à porta de sua casa pedir para dar um jeito no barulho. O homem barbudo retrucou que faria o possível, mas que não tinha poder algum sobre o animal. Uma semana mais tarde Carlos saiu de casa para o trabalho com grandes olheiras. Estava visivelmente cansado, incomodado e nervoso.

Na varanda de casa, sentado no chão frio enquanto bebericava um café quente, Rogério, o vizinho barbudo e Troll Social, sorriu.


*O troll social não gosta muito de dirigir. Porque alguém sempre faz merda atrás do volante. Confira AQUI.