Peixozilla [#150]

- Tá sentindo isso, Marcos?
- Isso o quê?
- Esse tremor na terra, pô. Sente o chão, o pé. Não tá vibrando?
- Verdade, Zé. Terremoto, será? Mas aqui no Brasil não tem terremoto.
- Olha lá! Tá vendo? Depois do prédio da prefeitura, na praça. O chão tá abrindo!
- Caralho! Que é aquilo? Olha o tanto de gente caída. É lava? Meu Deus! Tem alguma coisa saindo de lá.
- Puta merda! Parece um peixe com pernas, é enorme! As escamas tão brilhando.
- Abriu o olho! Tá saindo fumaça da cabeça. Olha, a língua! Os dentes afiados!
- Tá saindo fogo!? Fogo, da boca! Aquela mulher derreteu! Olha o montinho de cinza, não sobrou nada!
- Puta que pariu! Corre! Corre duro, Zé, vamos vazar daqui!
- Calma, Marcos. A gente tem que ir pro outro lado!
- Por quê?
- A Teresa tá na loja ainda.
- Deixa ela lá!
- É minha irmã, porra!
- Eu tenho que ir pra casa, minha vó tá sozinha! Vai que sai outro bicho desses lá perto!
- Calma aí! Preciso saber onde cê guardou a arma.
- Nem fodendo.
- Fala logo, porra! Vai que acontece alguma coisa contigo. A gente tem que dar um sumiço naquilo! Se alguém encontrar, ferrou!
- Puta merda. Enterrei no quintal da casa do Joaquim, perto do vaso. Mas bico fechado!
- Tá bom. Se cuida!

Zé esperou Marcos dobrar a esquina. Andou até o monstro escamoso no centro da praça. Atravessou um jorro de lava saindo da boca do bicho, depois um grupo de pessoas desesperadas correndo, depois o próprio monstro. Apertou um botão e tudo voltou ao normal. Tirou a máscara de borracha de Zé e jogou no lixo. Apertou o ponto no ouvido.

- Got it all? Joaquim is his neighbour.
- There’s an evidence extraction team already on the way, sir. ETA is seven minutes.
- Good. Send a car to pick me up.
- It’s just down the street, heading your way.
- I see it. Thanks, boys. Nice work.
- Thank you, sir. What do we do with the suspect?
- Arrest him when he gets home. Put him blinded in the interrogation room. I’ll take care of it.
- Think you can get a statement?
- Doubt it. But I’ll try. For Jacob’s children.

Entrou no carro, puxou do bolso do casaco o distintivo de Jacob, ainda manchado de sangue. Esfregou a cabeça da águia, lembrou das piadinhas do parceiro. Sorriu. Então lembrou das seis balas cravadas em seu peito, do corpo frio engavetado no necrotério, e fechou a cara.