Voltando ao camelódromo [#07]

- Oi moço. Vim trocar um negócio que comprei semana passada. Lembra de mim?
- Lembro não, dona.
- Comprei dois colares. Esses aqui, ó. Tá vendo, saiu a cor tudo.
- A senhora tá com a notinha?
- Que notinha? Cê não deu notinha. Cê não me deu nada.
- Não posso fazer nada então, dona. Não tem garantia não.
- Como assim, não tem garantia? Cês tem que garantir o produto que cês vendem. Foi semana passada!
- Dona, e se a senhora tava limpando a cozinha e caiu kiboa neles? Saiu daqui acabou a garantia. Senão a gente ia à talência.
- É falência. FALÊNCIA, energúmeno. E vão falir mesmo se só venderem porcaria que não dura nada. Fica aí enganando o cliente, dizendo que o negócio presta, que não é bijuteria fajuta, que vai durar. Eu vou falar pra todo mundo que cês são um bando de sem vergonha. Ninguém mais vai comprar nada aqui. SÓ TEM PORCARIA NESSA LOJA DOS INFERNOS.
- Dona, baixa o volume, cê tá assustan–
- EU QUERO MAIS É ASSUSTAR MESMO! CÊS SÃO UNS SALAFRÁRIOS, UNS BANDIDOS DUMA FIGA–
- Dona!
- SÓ VENDE PORCARIA, COISA JUDIADA, MEQUETREFE–
- Tá bom, dona, pelo amor de Deus, para com isso. Dá aqui esses dois. Pode trocar, escolhe aí.
- Não quero mais coisa fajuta não. Esse relógio de parede aí, tá quanto?
- 30.
- Me dá ele.
- Mas a senhora pagou só 20 nos colares.
- Ah, desgraçado! Então cê lembra de mim, é?
- Poisé dona. Agora eu lembrei.
- Anhan. Com desconto fica 20, né?
- Dona, realmente não tem como, a gente tem que–
- SÓ COISA ESTOURADA, VENCIDA, ESTRAGADA–
- Puta merda, dona. Tá bom, leva aí com desconto. Pai bondoso, a senhora não é fácil, não.
- Tá bom. Eu vou. Só me dá a notinha.


*Confira AQUI como a cliente comprou os colares na semana anterior.