Johnny e a cidade no vale (2) [#177]
Johnny sentia as nádegas suadas coladas na sela. O cavalo bufava, gingando nas quatro patas. À tarde alcançaram uma nascente correndo de uma pequena embocadura de pedra e desaparecendo na areia. Cavalo e cavaleiro beberam a água quente e arenosa.
Encheu o cantil, lavou o rosto e seguiu viagem. Acampou sob a proteção de um grande álamo no início das encostas, e sentiu o vento gelado varrer as rochas e a areia e as ossadas descarnadas de animais selvagens e acariciar a crina espevitada do cavalo e sua própria pele grossa de sujeira. Bebeu água e não fez fogo. Se enrolou no cobertor e dormiu.
Só no fim do dia seguinte chegou à cidade, encaixada no fundo do vale como um pedaço gordo de carne no fundo da panela, as luzes na neblina feito vaga-lumes salpicando a escuridão que ganhava corpo. Amarrou a montaria, entrou no bar, tomou duas doses de uísque observando as mesas. Poucos clientes naquela noite fria, mas o homem que procurava estava ali, olhos semiabertos na plateia dispersa de uma mesa de pôquer, tão bêbado que nem havia percebido o próprio revólver caído no chão aos pés da cadeira. Johnny pediu o guisado de coelho com milho torrado e mais umas doses e esperou o homem despertar da sua embriaguez e se atirar porta afora. Seguiu-o e derrubou-o e engatilhou o revólver na sua cabeça.
O Conneby, disse. Onde ele tá? O homem balbuciou algo. Onde ele tá? Preso, o homem disse. Matou três soldados. Vai ser enforcado pela manhã. Não vai não, disse Johnny, e atirou. Saiu de cima do corpo, desamarrou o cavalo, montou e foi na direção da cadeia.
*Este foi o segundo capítulo da Trilogia Faroeste. Confira os outros:
[1] Johnny e a espingarda serrada
[3] Johnny e o traidor