Johnny e a espingarda serrada (1) [#176]
Johnny entrou na oficina do ferrador, ergueu o saco e deixou cair na bancada a espingarda de cano duplo e as pontas serradas dos canos.
Dia, disse por sobre a barba embolotada embaixo da boca feito um ninho. Dia, disse o ferrador. Parece que o trabalho aí já tá feito. Precisa que eu lixe as pontas? Não, preciso que junte tudo de novo. O homem franziu a testa. Preciso que junte tudo de novo, cole os canos, dê um jeito.
O senhor não entende muito disso, creio, o ferrador disse. Johnny tirou do bolso uma moeda de cinco dólares. Não, não entendo. Entendo de dinheiro. Entendo que você trabalha se eu pagar. Entendo que não precisa explicar o que alguém entende ou deixa de entender, que abrir a boca não faz parte da porra do serviço.
O ferrador engoliu saliva, não disse que só trabalhava com ferraduras. Analisou a espingarda. Era um modelo velho, o cão enferrujado segurando um pedaço de pederneira quebrado nas pontas, a caçoleta raspada, a madeira da coronha cheia de talhos. Tão carcomida que não serviria para trocar por uma garrafa de rum.
Talvez se eu desmontar a arma e derreter os canos e fundi-los novamente, mas não tenho o molde nem as ferramentas. Mais fácil comprar outra. Por que precisa dos canos inteiros se ela funciona assim? Johnny cuspiu no chão. Eu só preciso de dois tiros, um de cada cano. Bem, posso fundir as pontas e lixar o interior. Ficará feia de doer, mas deve funcionar pra dois tiros. Johnny assentiu.
O ferrador pegou a moeda e os pedaços da arma e foi pros fundos da oficina.
*Este foi o primeiro capítulo da Trilogia Faroeste. Confira os outros:
[2] Johnny e a cidade no vale
[3] Johnny e o traidor