Johnny e o traidor (3) [#178]

  • 1 de julho de 2014
  • Categoria: Faroeste

Johnny surpreendeu o auxiliar do xerife com uma coronhada. O homem caiu.

Vivo, então, disse uma voz. Johnny olhou pro lado. Apenas duas celas, e em uma delas Conneby, seu antigo chefe, líder do bando com o qual cavalgou por nove meses antes de ser deixado para morrer. Ele sorria, o dente podre ainda ali, sentado no chão, as costas na parede. Johnny arrastou o auxiliar desmaiado para dentro da cela vazia e o trancou lá.

Você tentou, Conneby. Eu não tentei porra nenhuma, moleque. Eu fiz. Fiz o que tinha que fazer. O que você acha que ia acontecer se não tivesse sido daquele jeito? Quem pode saber agora?, disse Johnny. Eu tinha que escolher alguém, garoto. Os homens iam nos alcançar, perdemos o Mule no banco, o xerife daquele pardieiro acertou o Doc na perna, nossos cavalos estavam cansados. Eu não podia deixar o Doc pra trás, quem ia cuidar da gente? O McGurt e o Bartleby tavam comigo há mais de dois anos. O Caroly conhecia o território melhor que eu. Sobrou você.

Claro, Conneby. E o jeito mais fácil foi dar um tiro no meu cavalo e me deixar pra atrasá-los. Ótima ideia. Se eu morresse no fim. Como você sobreviveu, guri?, Conneby quis saber. Eram dez homens atrás da gente. Você não tinha tanta bala. Eu peguei o revólver do Mule, Conneby, e ele só atirou duas vezes. Eu tinha dez balas, uma pra cada. Usei o corpo do cavalo como cobertura. Impossível, disse Conneby. Eu não estaria aqui agora se fosse impossível, imbecil.

Sua vingança não deu muito certo. Eu vou morrer pela manhã. Tudo o que você vai fazer é adiantar o serviço em algumas horas. Desde que seja pelas minhas mãos, disse Johnny. Reconhece a arma? Conneby estreitou os olhos e depois os arregalou. Eu vendi assim que nos separamos. Eu sei que você vendeu, disse Johnny. Comprei do sujeito que serrou ela, montei de novo e a trouxe aqui pra acabar com a tua raça. Pra que tanto trabalho, guri?

Johnny encaixou a escopeta num dos vãos da grade. Conneby não tentou suplicar. A primeira bala foi no meio do peito, a segunda na cabeça. Johnny jogou a arma dentro da cela, saiu, subiu no cavalo e seguiu viagem, sabendo que logo viriam em seu encalço. Como sempre vinham. Como sempre viriam.


*Este foi o último capítulo da Trilogia Faroeste. Confira os outros:
[1] Johnny e a espingarda serrada
[2] Johnny e a cidade no vale

**Antes de se ver enredado nessa busca por vingança, Johnny fez seu nome com uma Bowie. Confira AQUI.