Adivinha

1. Tenho a forma que quiserem me dar, mas o que me dão costuma ser retangular. Vivo empilhado, socado, fechado. Crianças me destratam, eu gosto. Todos que me pegam, adoro. Sou uma puta à espera de um cliente. Sorrio quando a fila é grande. E não cobro nada. Não altero o serviço. Faço o que me criaram para fazer. Fico velho e continuo sabido, e mesmo esquecido aguardo ser consumido. Adoro mãos, ah, mãos, tateiem com força.

2. Nasço e morro na mesma posição, se mudar me encontra estatelada no chão. A cabeleira é temperamental, cor e volume mudam e desmudam. Os pés largos, fundos e numerosos não andam. Tenho carapaça dura, obtusa, mas não me tome por medusa. Sou antiga e costumo viver distante das crianças que adoram me desenhar.

3. Esfacelo. Cor de cabeça de martelo. O vento me leva, me sacode. Subo e desço, sem volante ou freio. A fricção é minha grande inimiga. Nascida na chama mas não sou fogo, tenho pavor de coisa quente. Sou escrava dos humores do céu, mas é na terra que logo morro e desapareço.

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A história: 2 viveu por longos e frutíferos anos em liberdade. Por meio de terceiros, morreu e deu a luz a 1. 1 viveu enclausurado até ser escolhido e saboreado. Foi útil até não ser mais, e virou 3 por falta de espaço (a desculpa oficial; na verdade todos sabem que foi por ameaça ideológica).