Aprende enquanto tô viva

Olha lá a mala da Maraia que a Juçara inventa de carregá pra cá.

Ela pisa torto, fala roto, tem pé canhoto e o talento de intizicá. Nem bem sabe que o Josué que ela gostava de amassá deu no pé, fugiu demais, ó, lá pras quenga de Poconé. Qual! Se um dia a gente pega os dois no bacanal era motivo de falá pro Sô Cabral, dava umas bifas nesse um pra deixar de ser trambicas.

Ah, que que é que eu quero querer dos outros querência que não tenho de querer mal pra ninguém nem necas de providência. Deus reparte certo, que é pra comer correto, nem pouco nem acima do estipulado na régua de cego que é bem aventurança do nosso Senhor. Obedecer é sempre melhor que ter que apelar pro doutor, visse.

Se apruma, filha, faz de querida, única coisa que se leva dessa vida é rancor que volta pra assombrá, fantasma pertence ao carcará. Os bons vão duma vez, não carregam injustiça, perdoam e não mancham a alma com esses tipo de carniça.

Oi, comadre Maraia, tão bom te ver pelas bandas de cá. Parece que de saudade a gente não definha, essa aqui é minha filha, Julinha, queria tanto te apresentá. Tá tudo bem, tamos só esperando seu Justino com o porco que ele matou hoje de ladino pro povo todo se ajuntá. É, pra deputado, diz que quer falar pela gente, apresentá os plano pra gente enquanto empanturra a gente até cansá.

Se me dá licença, vou só mostrá minha presença pras outras comadres. Fica à vontade, mais tarde nos falamos, nem que seja pra fofocá.

Tá vendo, filha, faz de elegante, se escapa num instante e de ruim cê não vai ficá. Agora é tocaiá a mesa, de olho bobo nas arredondeza, que o porco já vai chegá.