Flash Fiction

Papai disse que ia me ensinar a consertar tudo.

Carrinhos de madeira. Corte, lixamento, pintura, encaixe. Portas, teto, piso, capô, bancos. Rodas, rolamentos, pranchas, eixos. Dali pros de ferro, coisa mais detalhada, janelas de acrílico, volantes de plástico. Depois as réplicas em miniatura, motores, retrovisores pintados, bancos de courino, tapetinhos de borracha.

Daí os relógios. De pulso, de bolso. Capa, limitadores, contador, mostrador, ponteiros. Bateria, parafuso, aro, vidro, canhão, fuso. Pulseira, gomos, encaixe, fivela. Os de parede, caixotes de madeira, engrenagens maiores, passarinhos de plástico e veludo. Os eletrônicos, circuitos, placas, soldas, fusíveis, visores, leds, cabos de alimentação, voltagem, parafusos.

Daí a casa. Pia, torneira, encanamento, ralo, fossa, caixa de gordura. Privada, chuveiro, box, esquadria, moldura, trinco. Armário, gaveta, tomada, fiação, bocal de lâmpada. Piso, azulejo, massa corrida, pintura. Parafuso, prego, furadeira, broca. Gás, fio de telefone, portão eletrônico, motor, encaixe, trilha, controle.

Ele ia me ensinar, mas deu pau no marca-passo dele antes.