Enorme

  • 12 de fevereiro de 2015
  • Categoria: Fantasia

Sento na grama. Meu almoço: duas barrinhas de cereais e uma garrafa de água. Observo os pilares brancos e curvados numa fileira, dez metros de intervalo entre cada. Lá na frente, outra fileira. Todos revestidos de amarelo pelo pó, tombados pelo vento com exceção de dois, pontas beijadas no alto como dedos encostados. Além deles a grama selvagem domina tudo até onde a vista alcança. Ontem imaginei o que encontraria depois da caverna; nunca achei que pudesse ser um território intocado pelo homem moderno, mas os indícios não cansam de apontar isso.

Levanto, ajeitando a mochila. Calculo que esteja nas ruínas de um vilarejo abandonado há séculos. Não alimento esperança de encontrar remanescentes. Ando em frente, seguindo um pilar mais robusto e reto caído na transversal entre as duas fileiras, semi-enterrado. Na sua ponta, lá adiante, há uma espécie de rocha redonda da mesma cor clara, trinta metros de altura. Conforme me aproximo vejo que é oca; um buraco permite o ingresso para o que parece um salão. Em um lado da parede há três aberturas menores. O teto barra a luz direta do sol, mas mesmo assim o interior é bem iluminado. Aproveito e extraio um pedaço da estrutura para analisar na universidade.

Percorro o pilar central que me trouxe aqui até o outro lado. Nas últimas dezenas de metros ele se ergue suave e depois afina abruptamente, em formato de pião. Outras rochas circulam essa ponta como um U prestes a abraçá-la. Além do U mais dois grandes pilares na grama, seguindo adiante em paralelo até onde posso enxergar. Subo na ponta de um deles e apanho os binóculos da mochila, averiguando onde acabam. Avisto uma espécie de lombada na metade de ambos, e se encerram, lá longe, num amontoado estreito de pequenos troncos, como se fossem…

Tiro os olhos do binóculo. Corro até um ponto privilegiado de observação, uma colina a dois quilômetros de distância. Paro algumas vezes para recuperar o fôlego. Quando chego ao topo me viro, observando a maquete de pilares esbranquiçados. Daqui fica claro. O crânio, a espinha descendo, as costelas tombadas, a bacia, as pernas, os dedos dos pés. Os braços e mãos enterrados, engolidos, nada a não ser o resquício de um cotovelo ainda não saboreado pela terra.

Pego a máquina e começo a tirar fotos. Penso na reação do pessoal da universidade quando souber o que eu achei.