Judeuzinho

Levanta, ele diz. Eu me esforço mas pareço feito de, e até enfio os dedos na terra pra ajudar e não. Ele percebe, me apanha pelo sovaco e me ergue de, e dói mas eu sinto que reclamar é à toa e me sinto muito. Quando fico de pé percebo que ele olha meu ombro desconcer, a mão ainda aberta, o osso que cabe com folga na palma e é tudo o que sobrou embaixo da. Vira, as botas rasgando os pedre que foram meu consolo nos últimos meses, e. Eu sigo como.

Passamos por vários barracões e vários outros homens fardados que me. Ele continua impassível, segurando o cruzado contra o. Passamos pela grade, pela outra grade e um soldado de cabeça pequena afundado no enfia a mão no meu. Nem é preciso muito pra eu cair, soprasse e dava no. A bunda vai com tudo no chão e eu fico estatelado enquanto ele grita com o, me apontando, apontando além da, apontando o próprio peito, e no fim o homem repreendido faz uma continência e se empertiga mas não parece nem um pouco arrepen. De novo ele me ergue pelo mesmo e dói o mesmo tanto e de novo eu não.

Rodeamos o refeitório e o cheiro de sopa me revira o e seguimos, e depois de um cercado pequeno cheio de porcos se refestelando numa poça de entramos no galpão. O cheiro de me faz vomitar mas a única coisa que sai é um fio de. Passamos por alguns porcos pendurados em e chegamos numa onde um homem enfia pedaços de carne e gordura num moedor e mistura tudo numa cheia de e uma mulher enfia nas tripas e torce. Fora, depois da porta, outra mulher alimenta o e vira as linguiças na gre, que salpicam o ar com um cheiro tão forte que vomito de.

Ele pega uma das linguiças, me arrasta pra trás de uma, morde um, mastiga, cospe na mão e enfia na minha. Engole, ele diz, e faz isso até a linguiça acabar. Pega o cantil e me passa. Bebo o tanto que cabe.

Pronto. Agora você vai comer todo dia. Em troca vai limpar minhas botas, lavar meu uniforme, limpar a casa. Ela não dá conta do trabalho sozinha. Entendido? Eu olho pra cara dele pensando naquele dia, que parece ter sido há tanto tempo que foi em outra vida, quando a gente morava na mesma rua, em que meu pai e ele bebiam cerveja e dançavam ao redor da banda na festa de alguém e eu brincava com as outras crianças e comia um pedaço de torta tão doce que ardia a língua e minha mãe abraçava meu pai e ele abraçava a esposa dele e riam como loucos de alguma coisa engraçada e parecia que a vida ia ser feliz pra sempre.