O rato [#226]

O dr. Kayamovsky apertou o botão do controle. O cabo de fibra ótica, ligado ao cérebro de Poblovo reprogramando seu córtex motor, emitiu uma intensa luz azul. Dentro da casa de vidro, o rato começou a correr em círculos anti-horários. O dr. Kayamovsky sorriu.

O dr. Kayamovsky entrou no laboratório e viu Poblovo encolhido num canto da casa, amedrontado. Desligou o som tocando Napalm Death num volume estridente, retirou os protetores auriculares e iniciou uma sonata de Chopin. O rato andou tranquilo, bebeu da vasilha com água e se ergueu nas patas traseiras, tremelicando o bigodinho para o cientista.

O dr. Kayamovsky colocou duas tigelas dentro da casa de vidro e aguardou. Numa havia sopa de mariscos ao molho rosé com toques de champanhe e na outra purê de batata frita. Poblovo cheirou as duas e tomou a sopa.

O dr. Kayamovsky deixou dois filhotes de rato isolados por uma cerca. Quando Poblovo percebeu os visitantes, pulou a barreira e cheirou-os. Eles se aninharam contra as suas patas. Voltou ao outro lado para beber água e notou uma tigela com leite. Abocanhou os filhotinhos pelo cangote e os carregou até lá. Eles beberam o leite e se aninharam de novo na figura paterna.

O dr. Kayamovsky dispôs cinco chumaços de algodão nos cantos da casa. Em cada um borrifou diferentes feromônios. Poblovo farejou o ar e foi sem hesitação ao encontro do algodão com o feromônio de rata no cio.

O dr. Kayamovsky plugou o aparelho à sua cabeça. Deitou e apertou o botão do controle. Dentro da casa a ratinha Minerva tremeu, sentindo as transmissões das dezenas de micro-fios ligados ao crânio. O dr. Kayamovsky viu o mundo preto e branco pelos olhos da criatura e andou até encontrar Poblovo. Apenas a porção animalesca da mente interconectada do cientista foi capaz de capturar o sorriso do rato de laboratório.