Paolo, o urso

- Ahhh!
- O que foi?
- Você fala?
- “Você fala?” Ah, claro. Vocês, humanos, são os únicos que podem falar. São os seres pensantes, que governam o mundo com máquinas e dedos opositores. Os bambambãs. Grande merda aqui na floresta, sozinho e ferrado, certo?
- Onde a gente tá? Que ilha é essa?
- É a ilha das fadinhas. Elas cantam musiquinhas bonitas, fazem cafuné, atendem seus pedidos, constroem camas king size pra você tirar um ronco depois do prato francês que elas preparam. Só que não. Qual o teu nome?
- Fábio.
- Então, Fábio. Faz tempo que nenhum de vocês dá as caras. O que aconteceu?
- Eu tava num teco-teco fazendo o trecho Cartagena – Cancún. Uma tempestade pegou a gente e–
- E você e o piloto caíram, o piloto morreu, você tá há semanas andando pra cima e pra baixo se virando pra sobreviver, a roupa foi pro brejo e achou que seria prático amarrar essas folhas de bananeira igual tanguinha de índio na frente e atrás.
- Como você sabe?
- É meio óbvio, pra ser sincero. A tanguinha foi boa ideia. Acho sexy.
- Sexy?
- É. Mas cê é peludo pra caramba. E tá com essa barba enorme. Fica parecendo urso, sabe? Eu curto um lance mais exótico. Humano com cara de humano de mesmo.
- …
- Não fica tímido, vai. Todo animal tem suas necessidades.
- Você é o único bicho falante da ilha?
- Claro. Imagina. Se tivesse outro teria quer ser uma democracia. E aí seria um saco.
- Outros humanos apareceram aqui antes?
- Alguns. Nenhum tão bocó quanto você. Mas dá nada. Vem comigo.
- Pra onde?
- Pra casa, pô. Pra onde mais? Esquece as fadinhas. Esquece tua antiga vida. Agora cê mora na ilha. Eu sou o Paolo.
- Prazer, Paolo.
- Senhor.
- Como?
- Prazer, senhor Paolo, pra você. Ou só senhor.
- Que porra é essa?
- Eu pedi pra você falar, Fábio?