Flash Fiction

Olá, seu filho da puta! Como é que tá essa força? Tudo bem? Pai, mãe, irmã, filho? Ah, eles que se fodam, né? O que importa é a gente aqui, nessa atividade deliciosa que vamos fazer hoje!

Vamos lá. Levanta os dois braços, bem alto. Agora abre os dedos, isso. Mexe, digitando na velocidade da luz! Legal. Vai circular o sangue. Pode descer. Agora pula. Pulando, assim. Bem alto. Respira! Se parar de respirar dói a barriga. Mais alto. Tá. Agora deita. De lado. Apoia a cabeça na mão, ergue a perna de cima e segura. Não ri, desgraçado! Vai, continua. Não ri, porra! Tá lembrando da piada de ontem, né? Desce a perna. Vira, do outro lado. Segura. Pronto. Agora vira pra cá de volta.

Abdominal. Vai. Três séries de 20. Só pra pegar o ritmo. 1, 2, vai, tá maneiro, 9, 10, puta que pariu, putaquepariu, 13, 14, caralho, caralho, caralho, 16, 17, meudeusdocéueutoqueimandonoinferno, 19, 20. Puta que pariu! Respira, vagabundo, respira. Calma. Relaxa o corpo. Vai, já deu 30 segundos. Outra série. Você consegue, 1, 2…14. Uai, 14? Vamos lá, Antônio! 14 é coisa de criança! Não faz essa cara feia! Tá bom, tá bom, deita aí, derrotado. Respira. 30 segundos. Vai. 1, 2…9. Não, Antônio, 9 é muito pouco! Nem a metade! Vou desistir de você desse jeito! Não tem condições.

Flexão. Flexão não? Não consegue se erguer? É essa pança gigantesca, seu otário. Tá, o que mais você consegue fazer? Alongar? Alongar!? Já quer terminar? Caracoles… Bom, você é que manda, não posso te obrigar a nada. Vai, puxa os braços atrás da cabeça. Agora os cotovelos no peito, olha pro lado. Puxa a perna, encosta na bunda. Na parede, a panturrilha. Certo. Pronto, acabou, se fizer mais acho que você vai ter um troço. Deu, filho da puta, satisfeito agora, né, vai, vai comer seu pudim e acabar com todo o trabalho que a gente teve aqui, miserável duma–

Antônio joga a toalha em cima do espelho. Treinar sozinho é barra.