Prensa [#106]

- É o seguinte, Carlinhos. Não tá dando certo isso aqui entre a gente. Não tá rolando. Eu tô ficando puto toda hora, perdendo a paciência, não tá legal. Temos que interagir mais, você precisa me dizer o que quer, o que precisa, o que espera de mim. Às vezes faço algo e você acha ruim, faz cara feia, até chora. Isso não é jeito de conviver, não dá pra ser feliz assim, né?
- Não responde, não precisa responder, eu quero falar mais algumas coisas. Tem que existir respeito também. Recíproco. Eu respeito o seu espaço, respeito a sua rotina, e você precisa respeitar a minha. Tudo bem que somos dois homens, a gente se entende melhor, mas mesmo assim, não dá. Preciso dormir tantas horas numa noite pra ficar bem no outro dia. Preciso me concentrar, preciso estudar, ler os livros, fazer os gráficos ou meu chefe come o meu fígado, tá entendendo? A renda da casa vai pro brejo.
- E o Rex. Você só quer brincar, cuidar que é bom, nada. Tenho que comprar ração, levar pra passear, no veterinário, faço tudo. As coisas da casa também. Sempre lavo, passo, varro, cozinho, faço comida boa pra gente. Se não quer ajudar pelo menos elogia, raspa o prato. Essas regras de convívio são importantes, não é à toa que muita gente briga, casamento acaba, família se separa, irmão não se fala mais. Vamos evitar isso, né? Quero que cuide do que é seu, pelo menos do seu, limpe sua bagunça, dê descarga, essas coisas. É o mínimo.
- E quando eu trouxer as namoradas preciso de privacidade, tá? Você tem que colaborar ou vai ficar cada vez mais difícil. Vamos começar de novo? O que me diz?
- Gu da dá. Papá. Rex. Papá.
- Tá bom, filho, vai lá brincar com ele.