Rotina policial [#151]

O infrator chuta a porta, agarra a mulher pelos cabelos, a arrasta pra trás do balcão da cozinha e coloca uma faca na sua garganta. Quando chego, o vídeo-droide me antecipando, ele grita algo que mal escuto, a pistola no modo laser mirada entre os olhos. Um toque no gatilho, um fio concentrado, o corpo caindo. A vítima se afasta e se encolhe no sofá, chorando. Tento confortá-la antes que os paramédicos e o resto dos policiais cheguem, mas não sou muito bom com as pessoas. Quando chegam passo o testemunho e o vídeo-droide baixa o arquivo pra unidade móvel dos peritos.

Saio de lá conectado à frequência no capacete. Assalto à mão armada num restaurante a três quadras. Subo na moto e paro na calçada, encostado na parede, antes das janelas. Ligo o infravermelho do vídeo-droide, puxo a planta da prefeitura e visualizo no computador de bordo a cena no interior. Dezoito pessoas no chão, duas andando pra lá e pra cá. Troco pro raio-x. Armados com pistolas. Seleciono os alvos na tela, mudo o seletor da arma pra teleguiado, dou dois tiros. As balas fazem a curva e entram pela janela, esmigalhando o vidro, acertando cada um no peito. Entro atrás, chutando as armas e algemando. Digo que está tudo em ordem, peço calma, mas sou péssimo com as pessoas. Logo a equipe chega e passo o relatório.

Frequência, tudo em ordem nas redondezas. Puxo o arquivo frio. Açougue incendiado ontem, uma quadra da minha posição. Averiguar possibilidade de fraude para burlar seguro, proprietário se encontra no lugar avaliando os danos. Consulto o arquivo no caminho, download compresso pro chip neural. O homem está do lado de fora, aguardando a autorização policial para iniciar a busca por destroços aproveitáveis e a limpeza para reconstrução. Faço uma entrevista de rotina analisando tom de voz e batimentos cardíacos pelos sensores do vídeo-droide. O homem esconde algo. Na perícia dos restos carbonizados identifico resíduo de gás inflamável. Puxo as gravações de satélite da noite anterior, vejo um homem chegando em um carro e entrando com um cilindro embaixo do braço. Zoom na foto não identifica a placa. Entro com a senha de acesso e busco as gravações da câmera da conveniência da esquina. Consigo a placa. Consulta no Departamento de Veículos me diz que o carro foi roubado ontem, no endereço X. Fuço as gravações das redondezas do endereço X no mesmo horário, consigo a imagem do infrator. Mostro ao proprietário e blefo dizendo que o homem da imagem está preso e foi contratado para queimar o estabelecimento. Ele morde a isca, gagueja, e o algemo para interrogatório. Uma boa prensa e o homem confessa. Mas isso é na delegacia. Pessoas não são o meu forte. A equipe de coleta vem e o recolhe.

Subo na moto. Conecto à frequência. Olho pro vídeo-droide. Fico na espera. Coço a cabeça. Bocejo.

Dia tranquilo é foda.