Seu Alvarenga [#86]

- Então, seu Alvarenga. O resultado da ressonância chegou.
- Vou te dizer, dotô, nunca mais entro numa máquina daquela. Barulheira dos infernos.
- É mesmo, não é todo mundo que faz não. O que deu pra perceber é que o senhor tá com artrose no ombro.
- Traduz, dotô.
- É um desgaste das articulações. Natural com o avanço da idade. A cabeça desse osso do braço, o úmero, é segura por duas cartilagens aqui em cima. Se elas se desgastam fica mais fácil deslocar o ombro, e dói com a movimentação.
- Agora pronto. E que que eu faço?
- Fisioterapia pra fortalecer os músculos do braço. E evitar forçar. Sem carregar peso, sem fazer movimentos bruscos. Evitar tudo que faça doer. A artrose do senhor não é tão avançada, tem gente que vai trocar de camisa e desloca o ombro. Mas é bom tomar cuidado.
- E fisioterapia não é exercício não?
- É, mas é direcionado pro seu problema. Não vai sobrecarregar o que não precisa e não pode. Eles estudam pra isso, pra não danificar as demais partes no processo de restauração da área afetada.
- Sei não, dotô. O mulherio vai chiar, sabe comé. Elas gostam que pega no muque, levanta, brinca. Não dá pra ficar mole com elas. Opa! Olha a frase solta dotô hahahaha.
- Seu Alvarenga, o senhor está com 91 anos, precisa se cuidar. Não é mais um jovem.
- Aí é que você se engana, dotô. Se eu me entregar a vida fica um saco. E a velharada do asilo vai ficar chupando dedo, imagina. E só chupar não dá. Opa! Outra frase solta hahahaha. O Alvarengão aqui ainda dá conta do recado.
- Bom, não vou negar que o resto dos exames do senhor estão ótimos. Só o colesterol que precisa baixar, mas está sob controle.
- Tá vendo? É esse colesterol que faz valer a pena. A cervejinha no fim do dia. Quem nunca, dotô?
- Tá certo. Alguma outra coisa, seu Alvarenga?
- Acho que não.
- Vou te receitar um analgésico. Se o braço doer demais o senhor toma. Mas não passa de dois por dia, tá bom?
- Precisa nem receitar, dotô. Essa dorzinha dá de guentar. É bom pra lembrar que eu ainda tô vivo, sabe comé?