Carlantônio [#13]

Carlantônio se achava esperto.

Na verdade nunca perdia a oportunidade de dizer “posso ser feio mas a inteligência compensa”. E isso irritava os seus amigos. Porque Carlantônio era um burro de primeira grandeza.

Um dia resolveram pregar uma peça no camarada. Fizeram um churrasco e o chamaram. Deixaram na ponta da mesa um livro, bem na frente da cadeira em que Carlantônio sempre sentava. Ele sentou e o pegou na mão.

- Que livro é esse? – perguntou. Todos fizeram cara de estranhamento e perguntaram do que ele tava falando. Ele mostrou o livro, balançou, deu soquinho na capa. – Esse aqui, oras, cês não tão vendo? – e disseram que ele tava vendo coisa, era a fome, a carne já vai sair, não precisa pagar de maluco.

Carlantônio abriu o livro. Na primeira página viu um texto escrito à caneta. Dizia: “Cuidado. Se você consege ver esse livro você eh especial. Apenas pessaos muito intelhigentes podem fazer isso. É invisível para todoz os outros. Se realmente acredita no seu potencial, se axa que é melhor que todo mundo e há algo espessial em você, pule pra última página. Caso contrário, jogue o livro no lisho”.

Carlantônio pulou avidamente pra última página. Outro texto. “Muito bem, você consegiu. Você é realmente intelhigente se conçeguiu encontrar este texto. Poucos são aqueles que comprendeem os complicadas diressões encontradas no iníçio do livro. Apenas os grandes gênhios da umanidade seriam capazes de tal proesa. Agora coloqui o livro onde o encontrou, e nunca fale dele com ningém. É um segredo”.

Quando Carlantônio pousou o livro com cuidado na mesa, os amigos desataram a rir.
Ele achou que perdera alguma piada, tão concentrado que estava na leitura, mas nada fora dito. Riu junto, pra não ficar de fora.

“Idiotas”, pensou Carlantônio. “Essa gentinha burra é dose”.


*Carlantônio e seu arsenal de burrices foram novamente confrontados quando a irmã, PhD em microbiologia, voltou de viagem. Confira AQUI.