Retrospectiva 2015 do Flash Fiction

Em 2015 foram publicados 77 drops inéditos no Flash Fiction.

Como de praxe, pra fechar o ano faremos uma retrospectiva dos melhores. Durante a festa de confraternização do escritório, em que o patrão Santiago Santos bancou um churrasco de abobrinha recheada com queijo, queijo coalho e pão de alho com queijo (nós, duendes, somos vegetarianos), além de um engradado de cerveja trincando, pude colher alguns depoimentos dele enquanto pilotava a grelha.

Vale dizer, é claro, que são os seus 5 drops preferidos. Todos fizemos listas pessoais e diferimos completamente. No entanto, a vontade do mestre prevalece. Complementamos a lista com links e outras infos. Fique à vontade pra discordar. E se perdeu algum desses drops, aproveite as férias pra colocar a leitura em dia.

Boas festas, um novo ano repleto de realizações e muita literatura. Obrigada por nos acompanhar e por ler os drops radioativos do Flash Fiction!

Até 2016!

(Inclusive, aproveito pra avisar que em janeiro desfrutaremos de nossas merecidas férias em alguma praia distante, mas em fevereiro estaremos de volta.)

TOP 5 do Flash Fiction em 2015

FF #273

#5 – Mergulhadores

“Não lembro o que provocou este conto. Provavelmente nada consciente, como costuma acontecer. A imagem inicial era a de um homem bebendo sozinho no bar, bebendo desesperadamente pra aplacar alguma dor ainda difusa. Quando o homem que chega pra acompanhá-lo é comprimido dentro de um copo, sabia que vinha outro conto maluco pelo caminho. Minha preferência sempre fica com os contos com pegada weird, fantástica, e esse ficou sem dúvida nessa fatia. O desfecho veio na loucura e arrematou o sentido do que eu acabara de escrever. Carga emocional latente. Não importa quão bizarra é a ideia; no fundo estamos sempre falando das mesmas coisas, dos mesmos sentimentos, do que nos move, das eternas perdas e ganhos.”

O drop Mergulhadores também foi publicado na antologia do projeto Quebras, idealizado pelo escritor Marcelino Freire e pelo jornalista Jorge Filholini. Após percorrer 15 capitais brasileiras fora do eixo, selecionaram representantes dessas cidades para compor um apanhado da produção ainda virtualmente desconhecida de novos prosadores e poetas. Mergulhadores representou a cidade de Cuiabá.


FF #244

 #4 – A morte do Toupeira

“Esse conto nasceu de uma proposta coletiva em uma oficina feita com a escritora Ana Paula Maia. O tema eleito pela sala foi o de escrever sobre um super-herói qualquer numa família de super-heróis. Quando comecei a escrever sabia que o personagem era um excluído por não ter desenvolvido poderes, e sabia que estava num cenário onde enterrava alguém nos restos da casa de sua família. Mas não previa o desfecho, que foi formulado perto do fim. Na maior parte das vezes só descubro o fim da história bem depois da metade. Foi o caso aqui. O personagem é lento, burro, e a construção foi feita com asseverações curtas, infantilizadas e repetitivas.”

O drop A Morte do Toupeira foi o primeiro a ser publicado em 2015. Ele também se tornou uma narração em áudio realizada por Lauriston Trindade e foi inserido como uma das vinhetas no episódio do podcast Ghost Writer sobre Minicontos, que contou com a participação de Santiago Santos.


FF #277

 #3 – Vocêu

“Viagem no tempo é um dos meus temas preferidos. Não foi algo ainda muito explorado no Flash Fiction, apenas num dos primeiros contos, o Cerveja Congelada. Mas rende ótimas histórias. Neste, fiz uma recapitulação da vida do personagem em uma única longa sentença, que deixa o leitor sem fôlego. Queria muito ver esse enfrentamento entre a versão jovem e a versão velha da mesma pessoa. Gosto do desfecho em aberto, sem pontuação. E acho muito comovente o motivo que leva o velho a encontrar o seu antigo eu. É o tipo de história que sempre me emociona nas releituras. Parece, ainda que gravite muito em torno da extensa oração do diálogo, conter um certo tipo de equilíbrio. O resultado final pode desagradar muitos leitores, mas me agrada muito.”


FF #297

#2 – Raiane

“Esse conto é um soco. Quando sentei pra escrever tinha acabado de ler Monstros Invisíveis, do Chuck Palahniuk, que é igualmente um soco, uma história transgressora, com personagens fortíssimos. A linguagem chula, encavalada, a violência verbal e física latente, o sexo banalizado, o desespero da falta da pontuação, os desenlaces inesperados; tudo carrega o leitor por uma ladeira cheia de curvas. A admiração que a narradora nutre por Raiane, a dependência, o comprometimento doentio impulsionado pelas drogas; tudo é desesperador. O desfecho é como o resto: um soco. Um conto impactante.”


FF-#320

#1 – Mascate

“Ironicamente, o último conto publicado no ano é o meu preferido. Mascate foi escrito no início de 2015 especificamente para um concurso literário do Rio de Janeiro, mas não foi selecionado. Depois disso revisei-o muitas vezes, lapidando-o até chegar ao tamanho aproximado de um drop do Flash Fiction. Quando o escrevi havia acabado de ler o livro de contos Os Cavalinhos de Platiplanto, de José J. Veiga. Não só a ambientação rural como o próprio realismo fantástico do conto são uma influência visível de Veiga. Numa das minhas corridas noturnas, excelentes pra bolar conceitos e idealizar enredos, fiquei com a frase ‘Aquele era um cavalo bom’, que abre o conto, na cabeça. Este conto nasceu de uma frase. Minha preocupação maior era com a linguagem, queria uma fala personalíssima pro personagem que corria o interior do Mato Grosso vendendo panos. O cavalo é o mote do conto. Mas também não é. Embora no final fique aparente que a verdadeira história aqui, seguindo os preceitos de Hemingway, não é a que está sendo contada, as informações são insuficientes para formalizar uma resposta adequada. Tanto o leitor quanto eu, escritor, não tenho as respostas exatas para esse caso. Tenho possíveis interpretações, que já mudaram e devem mudar no futuro. Por tudo o que o conto invoca, e talvez pela própria inexatidão que a narrativa sugere, sempre retumbante nas releituras, creio que este é o meu drop preferido até a presente data.”

O drop Mascate foi publicado anteriormente no Antessala das Letras, projeto encabeçado por Felipe Franco Munhóz e Lidia Ganhito que publica semanalmente novos autores indicados por autores já consagrados, trazendo também ilustradores para produzir peças específicas para estas produções. Santiago Santos foi indicado por Luiz Brás.

  • Loreci Demeneghi

    O mestre foi muito justo, mas se a lista não fosse tão estreita eu gostaria de ver listados também outros drops, como Folgado, Pastel e Salgadeira, que estão entre os meus preferidos.

    • http://flashfiction.com.br Santiago Santos

      Oi, Loreci! Essa lista publicada é metamórfica e cambiante, mesmo pra mim. Gosto muito desses que você citou também. Obrigado por lembrar deles! :D